a emancipação de cohen
o ditador (eua, 2012) ★★☆☆☆
estrangeiro esquisitão é deixado nos estados unidos, onde precisa adaptar seus costumes politicamente incorretos, porém ingênuos, à cultura americana. o mote usado por sacha baron cohen em “borat” e (requentado em) “bruno” volta à tona em o ditador, que narra a história do golpe sofrido pelo magnata aladeen, imperador de um pequeno país africano chamado waldiya. em visita a nova york para apresentar-se à onu, o cruel líder é enganado pelo tio e substituído por um sósia. com a ajuda de uma feminista cabeluda e de um amigo expatriado, aladeen tenta voltar ao poder e desmascarar o tio malvado.
abandonando completamente as cenas reais, que traziam as mais engraçadas e afiadas críticas ao estilo de vida ocidental, o ditador desaponta ao tentar mudar a fórmula – e a forma – do humor vulgar e grosseiro de cohen. o longa “convencional” de comédia parece um monte de esquetes justapostas sem relação entre si. a história não guia as piadas, mas, ao contrário, situações surgem com o único propósito de mostrar uma cena engraçada. dessa forma, vemos personagens aparecerem a esmo, sem gancho, sem costura, serem tragados pela trama enquanto a próxima piada brota. até mesmo as participações especiais, algumas surpreendentes, aparentam sem sentido ou importância à construção da narrativa.
a metralhadora giratória de gags acaba destruindo os melhores momentos do filme. um deles é o discurso de aladeen sobre as características da ditadura que a américa – supostamente – não sofre. de forma genial, o protagonista conduz a crítica usando um monólogo irônico e certeiro, mas derrapa feio no final, quando se desculpa por tudo o que disse e parte pra avalanche de piadas visuais bobas. no resto da película, aliás, os diálogos deixam muito a desejar.
no fim, a maior ironia de o ditador é mesmo seu intérprete sacha baron cohen. com um filme claramente moldado ao gosto do grande público, ele ainda insiste no papel do estrangeiro que precisa se acostumar ao jeitinho americano. o problema é exatamente esse: ele já está completamente adaptado.