duro de roer
os instrumentos mortais: cidade dos ossos (eua/alemanha, 2013) ★★☆☆☆
amontoado de ideias aleatórias, cidade dos ossos traz um pot-pourri de referências que todo mundo já viu/sabe/leu/cansou nos filmes para adolescentes dos últimos anos. vampiros, lobisomens e outros seres mágicos servem de contexto para contar uma incrível história de… amor açucarado entre um cara durão e uma donzela melindrosa em perigo. fuen!
a trama acompanha a vida de clary, uma adolescente comum que tem a vida abalada por estranhas visões e o desaparecimento repentino de sua mãe, jocelyn. ao lado do melhor amigo, ela se junta a caçadores de sombras depois de descobrir que sua família é formada por esse tipo de entidade. e é exatamente aí que o roteiro começa a despirocar. ao invés de descortinar o mundo novo e as habilidades recém-adquiridas da protagonista, a história se prende numa paixonite juvenil e perde a chance de construir um universo próprio.
um exemplo: depois de descobrir que o homem a quem sempre acreditou ser seu pai era, na verdade, um completo estranho sem qualquer vínculo familiar, clary decide imediatamente:
( ) sair em busca de sua verdadeira origem
( ) procurar ajuda no programa do ratinho
(X) ignorar completamente a informação e discutir com o paquerinha como se tivesse 14 anos
jace, o par romântico de clary, está caidinho por ela. mas é claro que nem tudo é tão simples e um triângulo amoroso (que depois vira quadrado) surge para atrapalhar os pombinhos. logo, o amigo de infância da protagonista, simon, declara seu amor por ela. e mesmo que o cara já tivesse dado mil indiretas, que o ciúme dele fosse flagrante e que a própria mãe já tivesse alertado sobre as intenções do moço com a filha, ela simplesmente:
( ) agradece, mas acha melhor se afastar para que ele não se magoe
( ) decide dar uma chance ao rapaz (ela não tá fazendo nada mesmo…)
(X) fica completamente surpresa, abalada, em choque. e depois ignora completamente a informação
bom, mas a essa altura a turma já lutou contra dezenas de vampiros, resgatou refém aflito, descobriu que clary é mais poderosa do que se imaginava. é a vez então de enfrentar um demônio que se esconde sob a pele de uma personagem até então fofinha. mas algo dá errado e os poderosos caçadores das sombras:
( ) ficam presos numa armadilha ardilosamente preparada
( ) perdem poderes depois que o vilão descobre seus pontos fracos
(X) ficam presos do lado de fora do apartamento porque a correntinha da porta está colocada
com tanta coisa acontecendo, outros membros dos caçadores das sombras acham que é melhor parar de proteger clary. não importa que ela seja filha de pessoas importantes do clã, nem que seja o trabalho deles proteger a terra dos demônios, nem mesmo que a moça esteja sem família, casa ou dinheiro. cansada de tanta humilhação, clary desabafa pro caçador alec:
( ) que ela vai se empenhar em não dar mais trabalho
( ) que ela foi e vocês não merecem falar com o anjinho dela
(X) que ela sabe que alec é apaixonado pelo namoradinho dela, jace
sim, é isso mesmo. sem que nenhum indício relevante fosse levantado, clary arranca o rapaz do armário para, como quase tudo no filme, depois ignorar completamente a informação. não é implicância, é furo no roteiro mesmo. tem outros também: o que acontece ao personagem mordido por vampiros? jocelyn está viva ou morta? por que o vilão precisa tanto do cálice de ouro? o que é o japa que volta do nada para salvar o caçador ferido?
com piadas pontuando a trama o tempo todo e trilha sonora de novela das oito, parece que nem o próprio filme se leva a sério. e ainda que clary seja menos enjoativa que bella swan (graças, sobretudo, à interpretação de lily collins, muito melhor que como branca de neve) e que os efeitos especiais estejam acima da média, cidade dos ossos deixa um grande vazio pra quem procura uma nova série pra acompanhar. é menos do mesmo.