o doce veneno do amianto
doce amianto (brasil, 2013) ★★★☆☆
com uma extensa epígrafe de walt whitman, doce amianto, mais nova obra do coletivo alumbramento, chega chegando. a partir dali, fábulas urbanas se misturam a delírios surrealistas para criar uma experiência cinematográfica sensível e debochada.
o filme narra as desventuras de amianto, personagem frágil cuja persistência no amor a leva a seguidas decepções. depois de ser rispidamente abandonada pelo namorado, encontra conforto na companhia de uma entidade já falecida, blanche. é com o apoio da amiga morta que amianto se joga em pequenas jornadas sempre em busca do sonho do enlace.
tal procura é exaustiva. amianto deixa-se constantemente em segundo plano em nome do almejado sentimento maior – e, mesmo que se questione em suas conversas com blanche se todo o esforço vale a pena, acaba se entregando, de toda forma, quando surge a oportunidade. numa das cenas mais interessantes, a da caixa de presentes, temos a constatação de que a protagonista é também sua maior inimiga.
com montagem criativa e fotografia de cores fortes e, muitas vezes, estouradas, doce amianto não se apressa em encontrar seu próprio ritmo – e até se dá ao luxo de abrir parênteses para expor uma crônica completamente alheia à trama principal. numa atmosfera fantástica, que passeia entre buñuel e lynch, o longa apresenta inúmeros dilemas, de ideologia, de comportamento, de gênero, de realidade como a conhecemos, e nos convida a rever os conceitos de vítima e delicadeza. fraco é quem não se entrega.